Revisitando fases antigas da Música Popular Brasileira, dei de cara com o rico acervo criado na época dos festivais da antiga TV Record.
A onda musical se contrapunha aos desmandos do regime militar que tomaram conta do país entre os anos de 1964 a 1985. Esse Establishment instaurou no país a ausência de democracia, a supressão de direitos constitucionais, a censura, a perseguição política e a repressão feroz a quem se atrevesse a desvirtuar a ordem imposta.
A sociedade, porém, não se calou.
Aliado aos setores estudantis e de políticos de esquerda, a arte se manifestou contra aquele sistema. Na música, Caetano Veloso entrava em cena para dizer que era Proibido Proibir. Os festivais de música da Record jogavam flashs de luz em Geraldo Vandré, Chico Buarque de Holanda e outros e, inseria na mídia mais popular do país, a televisão, lenha para uma nova ideologia. Uma nova ordem.
Alinhada com movimentos sindicalistas e ajudada pelas comunidades eclesiais da Igreja Católica, a nação brasileira começava a assimilar a necessidade de reação contra a falta de liberdade popular.
O protesto chegava finalmente aos principais interessados: o povo.
Os cantores da época, sensíveis ao chamamento, trataram de disseminar as sonoras idéias. As pessoas cantavam e assimilavam. Caminhavam e cantavam uma nova canção...
Vandré, quando compôs “Pra não Dizer que Não Falei em Flores”, falava de revolução:
“Pelos campos a fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões...”
Naquela época, as artes, muito mais do que simplesmente entreter, eram responsáveis por formar opiniões, ideais políticos e até mesmo filosofias existenciais. A Tropicália e o Cinema Novo, por exemplo, foram assim...contraculturalmente apresentando um novo caminho a seguir.
Na militância política, a esquerda armada no Brasil também se organizou a partir do golpe militar de 1964, sob influências do socialismo revolucionário, que importou métodos empíricos usados pelos anarquistas espanhóis, portugueses e italianos, que fundaram, no início do século XX, os primeiros sindicatos do País.
O famoso escritor e poeta mineiro, Carlos Drumond de Andrade, perguntou E Agora, José? Embora a pergunta tivesse sido feita nos anos 40, na época da Segunda Guerra Mundial e da ditadura Vargas, Chico Buarque de Holanda trouxe a questão para o período dos “anos de chumbo”, e de novo perguntou. E Agora, José?
Sempre denunciando o abuso do poder político e econômico, Chico Buarque também falaria, em 1971, sobre os descasos para com o proletariado, principal força de trabalho nacional, quando um trabalhador morre na contramão atrapalhando o sábado. A música é “Construção”, composta por ele mesmo e é de caráter narrativo.
O protesto gritado por quase todos os setores sociais conduzem a uma época de abertura, em 1985, quando os militares começam a se retirar de cena.
O Brasil se volta ao planejamento anteriormente programado pelas multinacionais, antes do Golpe de 64, quando tentaram teleguiar o presidente eleito Janio Quadros. A manobra dá errado e Jânio renuncia logo após seu primeiro ano de mandato.
Entre mortos e feridos o Brasil segue pela via do capital. Grandes multinacionais aqui se instalam, geram empregos, as cidades crescem, se cosmopolizam.
Por outro lado o jogo entre exploradores e explorados continua igual e o grito na boca dos críticos descontentes ensaia sempre novos versos.
Na contemporaneidade, vivo o presente dado por um anjo, chamado Gabriel o Pensador. Pra mim ele é um dos senhores do movimento. Querubim afiadíssimo a jogar “leite na cara dos caretas”.
O Hip Hop e suas vertentes são a mais literal tradução da fome social cosmopolita. O Pensador que o diga!
Partindo para a análise sem maiores pretensões da música “Até Quando”, podemos ver a nova cara do Brasil.
O artista, numa linguagem direta e de fácil interpretação, incita a juventude a novas ideologias e à ação.
Através de frases que começam com “Você pode, você deve, pode crer” ele nos convida a prosseguir e a dizer um sonoro “não” à ordem política e econômica dominantes.
Como crítico social alerta para males do tipo vícios, roubos, marginalização e passividade.
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